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Aumento de imposto sobre combustíveis terá impacto moderado na inflação

Por Agência O Globo

20/07/2017 21h07 — em
Economia



RIO - O forte aumento das alíquotas de PIS/Cofins sobre combustíveis — que mais do que dobraram no caso de gasolina e diesel — deve ter um peso de 0,5 ponto percentual sobre o IPCA, índice que mede a inflação oficial, estimam economistas consultados pelo GLOBO. Isso porque, na projeção do governo, o reajuste nas bombas deverá ficar em 7%. Não tem como passar despercebido pelo consumidor: no caso da gasolina, o desembolso no posto para encher um tanque de 45 litros subirá cerca de R$ 18.

Apesar do impacto, os analistas continuam a prever que o Banco Central (BC) cortará em pelo menos 1 ponto percentual a taxa básica de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem. A avaliação é que fatores como a safra recorde, que mantém os preços dos alimentos em baixa, e a expectativa de que a Petrobras continue a reduzir os preços dos combustíveis nas refinarias nos próximos meses compensem o efeito inflacionário causado pelo imposto mais salgado.

A conta mais pessimista é da economista Natália Cottareli, do banco ABC Brasil. Nos cálculos da analista, a maior parte do impacto, 0,4 ponto, virá do aumento da carga tributária sobre a gasolina. O 0,1 ponto restante será causado pela alta autorizada para o diesel. O efeito do etanol não entrou na projeção, por ser muito pequeno.

— Já prevíamos parte desse impacto em nossa projeção anterior. Agora, contanto, com essa alta de impostos, devemos revisar o IPCA de 3,8% para perto de 4% — explica a economista.

Mesmo que essa previsão esteja correta, o índice oficial estará bem abaixo da meta estabelecida pelo governo, que é de 4,5%. E a projeção do ABC está acima da média do mercado. O mais recente Boletim Focus, do Banco Central, divulgado na última segunda-feira, mostrou que as expectativas para o IPCA fechado do ano recuaram de 3,38%, na semana passada, para 3,29%.

Para André Braz, economista da FGV, o impacto não deve mudar a perspectiva da inflação de 2017:

— Tem espaço de sobra para acomodar (a alta da gasolina). Se não fosse esse efeito, era bem provável fechar o ano abaixo de 3%. Se fechar em 3,3%, não muda nada. Tem algum contágio, como o impacto do diesel sobre fretes, mas, mesmo eles, não serão capazes de pôr areia no bom comportamento da inflação.

Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, avalia que o governo escolheu bem o momento para anunciar o aumento. Além de não interferir na perspectiva da inflação, a medida mostrou que o governo está comprometido com o cumprimento da meta fiscal, o que terá efeito positivo sobre a trajetória dos juros. Ele espera que a Selic, hoje em 10,25% ao ano, feche 2017 em 7,75% ao ano. Para a próxima reunião, espera que o Copom corte a taxa em mais 1 ponto percentual.

— O impacto inflacionário é bem moderado, não vai impedir a queda de juros, muito pelo contrário — afirma o analista.

No mês passado, a deflação de 0,23% — a primeira em 11 anos — foi parcialmente influenciada pela queda de 2,84% dos combustíveis. Foi a quinta queda seguida desse grupo de produtos, com destaque para o recuo de 2,65%.

Agora, o aumento de imposto vai aparecer na inflação. Para se ter uma ideia, um motorista hoje enche um tanque de gasolina de 45 litros por R$ 156,82, considerando o preço médio de R$ 3,485 da gasolina apurado pela pesquisa semanal da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Com o aumento de R$ 0,41 da alíquota de PIS/Cofins, o custo para abastecer o mesmo tanque saltará para R$ 175,25, uma alta de cerca de R$ 18 por tanque.

Apesar do impacto do tributo, especialistas observam que os preços do petróleo no mercado internacional devem se manter em baixa, e o câmbio, estabilizado. Desde o dia 1º de julho, a Petrobras adotou uma política de preços para o diesel e a gasolina que prevê variações para cima ou para baixo quase diárias, para não perder mercado com as importações dos concorrentes. A partir de hoje, a Petrobras aumentou em 0,1% os preços da gasolina e em 2% os preços do diesel em suas refinarias.

A estatal destaca que o aumento das alíquotas não altera sua política de preços de gasolina e diesel . “O petróleo continuará variando no mercado internacional e a política de preços da companhia tem como fundamento essa flutuação, já que o preço da Petrobras não pode ficar abaixo da paridade internacional e considera a concorrência dos importados”, informou a empresa.

O diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires Rodrigues, acredita que a Petrobras continuará reduzindo os preços nas refinarias porque os preços do petróleo deverão continuar em queda nos próximos meses por causa dos excedentes do produto. Ontem, o petróleo Brent, referência no mercado internacional, foi cotado a US$ 49,31 o barril e, segundo Pires, continuará com sua cotação abaixo dos US$ 50. O ponto negativo da medida, diz, foi a alta da alíquota sobre o etanol:

— Com o petróleo em baixa e câmbio estável, foi o momento certo de aumentar as alíquotas de gasolina e diesel. Mas o governo não deveria ter aumentado o imposto do etanol, porque isso vai aumentar a sonegação e vai reduzir a sua competitividade em relação à gasolina.

O advogado especialista Cláudio Pinho afirma que agora será o momento de a Petrobras demonstrar independência na política de preços dos combustíveis em relação à União:

— Por conta dos preços internacionais do petróleo e do câmbio, a tendência da política de preços da Petrobras será haver pequenas variações para cima ou para baixo, como vinha fazendo.

Antes do aumento na alíquota definido pelo governo, o PIS/Cofins representava 11% do preço final do litro da gasolina. Somados aos 31% médios de ICMS, o consumidor já pagava 42% em impostos quando abastecia. No caso do diesel, antes da nova alíquota, do preço total, 9% se referiam ao PIS/Cofins. Somado o ICMS, a carga tributária final no diesel já chega a 26%.


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