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Até legging de US$1 entra na guerra comercial entre EUA e China

Por Agência O Globo

19/10/2018 14h07 — em
Economia



XANGAI — Sabe qual é a última vítima da guerra comercial travada pelo presidente dos Estados Unidos com a China? As calças legging de US$ 1. A ordem de Donald Trump de que o serviço postal dos EUA se retire de um obscuro tratado que reúne 192 nações, eliminando assim os descontos postais internacionais, ameaça atingir consumidores americanos que se acostumaram com as ofertas de plataformas como eBay Inc., AliExpress e Amazon.com.

Por causa do tratado postal, o envio direto de mercadorias aos compradores era relativamente acessível. Quando os EUA abandonarem o acordo, milhares de anúncios de empresas com sede na China que comercializam bens de consumo superbaratos provavelmente desaparecerão. O tratado estabelece as taxas cobradas pelos serviços postais nacionais para a entrega de correspondências e pequenos pacotes de outros países e oferece aos mercados pobres e em desenvolvimento taxas de frete menores do que as dos países desenvolvidos. O acordo — e um outro assinado por China e EUA em 2011 —, em essência, deu aos comerciantes chineses um subsídio anual de US$ 170 milhões para envio de produtos diretamente aos lares americanos.

— Os vendedores chineses que estão no eBay e em outras plataformas podem desaparecer, ou pelo menos não terão mais tanta facilidade para vender para os americanos — disse Gary Huang, presidente do Comitê de Cadeia de Abastecimento da Câmara Americana de Comércio, em Xangai. — Isso tem sido uma grande vantagem para eles há muitos anos e é assim que eles têm superado os vendedores americanos em seu próprio território.

A brecha do serviço postal pode ser vista nas opções de envio oferecidas por vendedores chineses do eBay e de outros nos principais portais de comércio eletrônico. Na quinta-feira, centenas de vendedores chineses anunciaram no eBay calças legging femininas para ginástica e ioga, incluindo algumas vendidas pela pechincha de US$ 0,76 que poderiam ser adquiridas instantaneamente. A Webstainless, empresa com sede na China que estava negociando o produto, acumula mais de 21.680 avaliações positivas de compradores nos últimos 12 meses, segundo o website de comércio eletrônico, e oferece frete grátis para os Estados Unidos.

No AliExpress, portal de comércio eletrônico da gigante digital Alibaba para compradores internacionais, o envio é gratuito no caso de um par das calças legging de US$ 10,29 transportadas via ePacket, o nome do serviço subsidiado pelo Serviço Postal dos EUA. Outras opções de envio com empresas como FedEx, United Parcel Service ou DHL Worldwide Express variam de US$ 40 a US$ 60, o que aumenta tanto o custo das calças baratas,que o comprador acaba conseguindo comprá-las diretamente em uma loja física ou vendedor nos EUA.

Quaisquer alterações nas tarifas postais internacionais podem interromper o comércio eletrônico transfronteiriço — a venda de mercadorias de um varejista de um país diretamente para os consumidores em outro. Esse tipo de transação, habilitado por plataformas como Amazon, eBay e Alibaba, deve atingir US$ 1 trilhão até 2020.

A ordem de Trump de eliminar os descontos postais pode aumentar os custos para a Alibaba, ajudando o FedEx e outras empresas de envios internacionais. Representantes da Alibaba não responderam aos pedidos de comentários. O braço de logística da JD.com, concorrente da Alibaba, informou, por sua vez, que analisa o possível impacto da medida. Amazon e eBay informaram, por meio de porta-vozes, que estão avaliando o comunicado de Trump e que preferem não comentar o assunto.

A taxa de frete no tratado postal pode ser uma fração do custo de enviar o mesmo item dos EUA para a China, o que dificulta muito o retorno, e pode ainda ser inferior ao custo de enviar um produto idêntico dentro dos EUA.

Os preços da Amazon ilustram bem esta diferença: o frete padrão para um iPhone da China para um endereço de Nova York é de US$ 4,99, enquanto de um vendedor com sede nos EUA é de US $ 5,99. A diferença pode não parecer muito grande, mas somada a milhões de itens de consumo de baixo custo, seu efeito tem sido uma desvantagem para os varejistas americanos em portais de comércio eletrônico.

— Vendedores americanos simplesmente não podem competir — disse Huang, que também é fundador da consultoria 80/20 Sourcing. — Parece que Trump quer nivelar o campo de jogo e o resultado é que os consumidores americanos terão menos acesso a esse material realmente barato.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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