Análise: Governo jogou pacote velho no lugar da reforma da Previdência
BRASÍLIA — O governo enterrou nesta segunda-feira sua proposta de reforma da Previdência. Depois de constatar que não teria votos suficientes para aprovar mudanças impopulares no regime de aposentadorias e partir para uma agenda com muito mais projeção política — a intervenção federal na segurança no Rio de Janeiro —, o Palácio do Planalto decidiu mudar sua estratégia. Jogou a Previdência para o lado e tentou colocar em seu lugar um conjunto de medidas velhas para mostrar que ainda tem uma agenda econômica.
O rol de propostas inclui ações que vão desde a reforma do PIS/Cofins — assunto que se discute desde o governo Dilma Rousseff — até a extinção do Fundo Soberano, medida que foi anunciada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ainda em 2016, quando apresentou o pacote fiscal que criava um teto para os gastos públicos.
Também entraram na pauta requentada medidas fiscais nas quais o governo tentou avançar, sem sucesso, ao longo de 2017 junto com a reforma da Previdência: a criação de um teto remuneratório para o serviço público e a reoneração da folha de pagamento das empresas.
Na esfera microeconômica entraram o cadastro positivo, a duplicata eletrônica e a lei que regulamenta o distrato de imóveis. Todas ações que a equipe econômica cita recorrentemente quando quer mostrar que sua agenda é diversificada.
Até mesmo a privatização da Eletrobras, que sempre foi uma prioridade para o governo, pois deve render ao mesmo R$ 12 bilhões aos cofres públicos em 2018, apareceu como algo que pode compensar o fim da reforma da Previdência.
Para tentar reforçar o discurso econômico, o pacote “novo” foi apresentado pelos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha; da Secretaria de Governo, Carlos Marun; do Planejamento, Dyogo Oliveira, além de Meirelles, e dos líderes do governo no Congresso. Mas algumas coisas denunciavam o quanto o conjunto era reciclado. Logo no início da coletiva, o ministro da Fazenda já lançou mão de seu celular para acessar o WhatsApp. Quem conhece Meirelles sabe que isso acontece quando o ministro já perdeu — há muito tempo — o interesse no assunto.
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