Protesto para Copacabana após morte de jovem no Pavão-Pavãozinho
afp.com / CHRISTOPHE SIMON
Rio de Janeiro (AFP) - Um homem de 30 anos morreu baleado na noite desta terça-feira durante um violento protesto em Copacabana pelo suposto assassinato do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, atribuído a PMs no morro do Pavão-Pavãozinho, informou a secretaria estadual de Saúde.
O homem, atingido por um tiro na cabeça durante os protestos, foi levado ao hospital Miguel Couto, onde constataram o óbito.
Copacabana, cartão-postal do Rio de Janeiro, foi tomada por barricadas, pneus queimados, tiros e muita confusão nesta terça, após a morte de Douglas na comunidade do Pavão-Pavãozinho, constatou a AFP no local.
A morte do dançarino, 25 anos, no morro situado entre Copacabana e Ipanema, paralisou um dos bairros mais frequentados por turistas que visitam o Rio de Janeiro, a menos de dois meses do início da Copa do Mundo.
"Há fumaça por todos os lados, tiros nas ruas e pessoas correndo para chegar em casa. Vários caminhões do Bope acabam de subir o morro", disse à AFP um estudante que mora na região.
"Cortaram a eletricidade em toda a favela. Não há luz e nem Internet", revelou uma moradora da rua Saint Roman, em Copacabana, bloqueada pela polícia.
Segundo testemunhas, os manifestantes destruíram várias lojas e uma clínica em Ipanema durante os protestos.
No túnel Sá Freire Alvim, cerca de 20 carros da polícia aguardavam ordens, em meio a um mar de vidros quebrados, aparentemente de garrafas lançadas da comunidade, enquanto helicópteros sobrevoavam a zona em busca do traficante conhecido como "Pitbull".
Amigos de Douglas - dançarino que atuava no programa "Esquenta" da Rede Globo, apresentado por Regina Casé - revelaram que o jovem foi espancado pela polícia até a morte, após ser confundido com um traficante de drogas.
A polícia informou em um breve comunicado que "as circunstâncias da morte de Douglas Rafael da Silva Pereira estão sendo investigadas" e que o laudo médico "aponta que as escoriações são compatíveis com morte ocasionada por uma queda".
Douglas, que também trabalhava como moto-taxista na comunidade, foi encontrado morto dentro de uma escola, sem marcas de disparos de arma de fogo.
"Equipes da polícia civil já estiveram no local. Testemunhas e moradores da comunidade serão chamados para prestar depoimento", revelaram as autoridades.
Por volta das 20H00 local, ainda persistiam várias barricadas na região do Pavão-Pavãozinho, comunidade "pacificada" em 2009.
- Revolta dos jovens -
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"Era um dançarino, um espelho para estes jovens. É uma revolta dos jovens. Que Copa do Mundo é esta?! As pessoas das favelas têm que se unir e descer para a rua", disse indignada Daizy Carvalho, moradora e integrante de um movimento de defesa dos direitos humanos.
"Faço um apelo aos turistas: não venham a esta Copa!" - disse à AFP.
Douglas "era um artista, um dançarino na TV Globo. Estamos muito tristes; eu ia gravar um clip com ele", revelou Paulo Henrique, cantor do Pavão-Pavãozinho.
As autoridades do Rio de Janeiro tentam melhorar a segurança na cidade desde 2008, mediante a reconquista de dezenas de comunidades nas mãos de traficantes de drogas ou das milícias, por meio de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).
Mas nos últimos meses, esta estratégia de "pacificação" tem sido ameaçada por uma série de ataques de narcotraficantes a várias UPPs, assim como pela própria violência policial.
ASSUNTOS: Coluna 2, Copacabana, protesto, Brasil