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Delator diz que Padilha indicou endereços para pagamento de propina

Por Agência O Globo

24/03/2017 20h03 — em
Brasil



BRASÍLIA — Em depoimento prestado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-executivo da Odebrecht José de Carvalho Filho disse que recebeu do atual ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), todos os endereços para o pagamento de R$ 4 milhões destinados ao PMDB durante a campanha eleitoral de 2014. Ainda segundo o delator, um dos locais indicados por Padilha foi o escritório de José Yunes, amigo e ex-assessor de Michel Temer (PMDB), onde teria sido feito pagamento no dia 4 de setembro de 2014.

“Todos os endereços, esses e os outros que eu não me lembro me foram dados pelo Eliseu Padilha”, disse Carvalho Filho. As informações foram publicadas pelo jornal “O Estado de São Paulo”. O interrogatório foi feito no processo que pede a cassação da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer por abuso de poder econômico e político.

Em outro depoimento, obtido pela “Folha de S. Paulo”, o ex-executivo da Odebrecht Hilberto Mascarenhas, responsável pelo setor de pagamentos de propina da empresa de 2006 a 2015, relatou que as entregas de dinheiro em espécie para políticos aconteciam em “lugares absurdos” e até “cabaré”. Questionado por um juiz do TSE sobre como eram feitos os pagamentos ao marqueteiro João Santana e à mulher dele, Mônica Moura, Hilberto respondeu: “Se fossem valores pequenos encontravam num bar, em todos os lugares. Você não tem ideia dos lugares mais absurdos que se encontra, no cabaré...”

Para repassar os montantes maiores, no entanto, Hilberto esclareceu que Mônica ou um representante dela se hospedava em um hotel onde se encontravam com um intermediário contratado pela Odebrecht que fazia a entrega, mas que não era ligado diretamente à empresa. "Então, você se hospedava no hotel e de noite ele visitava o quarto do interessado, entregava e ia embora, para poder ter mais segurança se fossem valores maiores", contou o delator.

Hilberto disse ainda que, quando era o principal responsável pelo chamado departamento de propina da Odebrecht, preferia pagar tudo fora do Brasil. “Eu dizia: eu prefiro pagar tudo no exterior, que era lá que era feita a geração, eu preferia pagar no exterior. Mas ela (Mônica Moura) exigia que partes fossem pagas no Brasil, justificando que tinha que pagar alguns serviços que eram feitos no Brasil...” Hilberto relatou ainda que Mônica estaria na lista dos "top five" que recebiam os valores mais elevados de propina da área.

Em outro trecho do depoimento, obtido pelo G1, Hilberto Mascarenhas disse que uma das regras para o pagamento de propina a políticos e intermediários era que o pagamento máximo feito em dinheiro não poderia ultrapassar R$ 500 mil. Ele explicou que a regra foi adotada porque era o volume máximo para caber dentro de uma mochila e não levantar suspeitas.

“Se eu tenho um pagamento de R$ 2 milhões, isso é uma mala. Ninguém pode estar transitando na rua com uma mala com R$ 2 milhões. Então, existiam também regras como, por exemplo, o valor máximo a ser pago era de R$ 500 mil, que cabia dentro de uma mochila”, declarou o ex-dirigente da Odebrecht. “Se você tinha R$ 2 milhões a receber, você ia receber quatro vezes 500 (mil). E aí tinha que ser combinado alguma coisa. Mas nem sempre, ministro, com o interessado final. Às vezes, tinha muito preposto”, explicou.

No depoimento de Carvalho Filho, o ex-executivo disse que a distribuição dos recursos foi determinada pelo executivo Marcelo Odebrecht. “Procurei depois o Eliseu Padilha, no escritório dele, comentei o fato, ele já sabia, evidente, e solicitei dele os endereços que eles poderiam receber e quem fez essa operação foi Operações Estruturadas. A sistemática era: eu chegava expor até ele e ele me fornecia o endereço, eu transmitia ao sistema de Operações Estruturadas a sra. Maria Lúcia (ex-secretária da Odebrecht), que uns dias depois, me entregava uma senha. Eu pessoalmente entregava essa senha, entreguei essa senha ao Sr. Eliseu Padilha”, afirmou o delator.

“E a partir dali, eu não tinha como e nem sabia como as coisas eram operacionalizadas. Então, esclarecendo que tive com ele (Padilha) quatro ou cinco vezes para pegar esse endereço e voltei novamente para pegar essas senhas”, completou Carvalho Filho. De acordo com ele, os valores seriam repassados ao PMDB via Eliseu Padilha.

Carvalho Filho também afirmou ter recebido na época uma “ligação extemporânea” do então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reclamando que não havia recebido R$ 500 mil.

“Tivemos uma discussão acalorada ao telefone. Achei estranho e comuniquei ao Cláudio (Cláudio Melo, ex-diretor da Odebrecht): 'Cláudio, o fato foi esse e vamos esclarecer junto ao Eliseu'. Logo depois fomos ao Eliseu e esclarecemos. Ele achou muito estranho este fato e disse: ‘Olha, se o endereço que eu dei e se fosse realmente entregue, o Sr. Yunes é uma pessoa de mais ou menos setenta anos, é de minha confiança, dificilmente não teria registrado isso’. Isso causou um constrangimento a mim. (…) O mal-estar permaneceu e a empresa tomou, deliberou fazer outro pagamento de 500 (quinhentos) mil reais no valor, aquele que deu origem ao processo em discussão", afirmou o ex-executivo.

Carvalho Filho disse que não tinha controle da planilha de distribuição de recursos. “A minha ação é entregar, tomar o endereço do Sr. Padilha e entregar à sra. Lúcia e a Sra. Lúcia me dava uma senha que eu repassava”, explicou. O ex-executivo da Odebrecht também não soube dizer que outros parlamentares do PMDB foram beneficiados com parte dos R$ 4 milhões.


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