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Crise e troca de governo ajudaram a emperrar combate ao crack

Por Agência O Globo

25/02/2017 21h02 — em
Brasil



As dificuldades para entregar prontos para funcionamento todos os equipamentos previstos pelo programa “Crack, é possível vencer” ajudam a explicar por que as cracolândias ainda existem em grandes cidades, segundo especialistas. Embora admitam que o governo federal promoveu avanços, ao criar uma rede de assistência nacional a usuários de drogas e investir em prevenção do uso do crack nas escolas, eles dizem que o plano de combate ao crack ficou emperrado em meio ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, à troca de ministros e à crise econômica.

— O programa ficou totalmente abandonado — afirma o professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Dartiu Xavier, defensor de políticas de redução de danos no tratamento de usuários de drogas.

Segundo Xavier, alguns avanços haviam sido conquistados:

— O programa também fez com que vários entes municipais e estaduais começassem a se articular. Tanto que surgiram propostas interessantes, como o “De Braços Abertos”, em São Paulo, e o “Atitude”, em Recife. O problema é que se faz um uso político disso e, quando troca o governo, não se dá continuidade a políticas que vinham sendo bem sucedidas.

O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, diz que um dos problemas do programa federal é dar o mesmo pacote de soluções para cidades com perfis diferentes. Segundo ele, nem todas as cidades precisam do mesmo número de câmeras de monitoramento ou têm a mesma necessidade de rede de atendimento. A elaboração do programa foi alvo de críticas de prefeitos e médicos, que reclamaram de não terem sido convidados a negociar os termos do plano.

— Infelizmente, esse programa não foi suficiente. O uso de drogas nas cidades é uma guerra. E um programa como esse é como dar Buscopan para um paciente que está com pneumonia — diz Ziulkoski.

FALTA DE REPASSES A MUNICÍPIOS

Ziulkoski também critica o baixo número de cidades que puderam aderir ao programa federal. Um estudo feito pela CNM aponta que 1.153 municípios do país estão na faixa de “alto índice de consumo” de crack. Só 121 cidades puderam fazer convênio com o “Crack, é possível vencer”. Dessas, de acordo com a confederação, 21 não receberam repasses.

O psiquiatra Angelo Campana, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas avalia que, depois de estourar no início da década, a epidemia do crack está em curva descendente. Segundo ele, os tratamentos são melhores hoje, mas, nas cracolândias, soluções de saúde pública ou repressão policial não são suficientes.

— Hoje, o crack está muito estigmatizado e mais restrito a populações de rua, que, além do vício, têm outros problemas, não têm emprego. Há um consenso na comunidade científica de que esse problema sai da área médica e deve ser tratado como questão social.


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