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Comissário refém de avião sequestrado para Cuba na ditadura é anistiado

Por Agência O Globo

04/08/2016 15h26 — em
Brasil



BRASÍLIA — A Comissão de Anistia aprovou por unanimidade, nesta quarta-feira, a condição de anistiado politico - com direito à reparação econômica - do ex-comissário de bordo José Omar Silveira Morais, um dos protagonistas de um episódio que marcou a história da repressão na ditadura militar. Omar trabalhava na Cruzeiro do Sul e era comissário de um modelo Caravelle, aeronave que acabou sequestrada por guerrilheiros da Var-Palmares e obrigada pelo grupo a seguir o destino de Cuba, em 1º de agosto de 1970.

Omar entrou na história por acaso. Não estava escalado para trabalhar no voo que partia de Montevidéu, no Uruguai, para o Rio. O avião que faria esse trajeto sofreu uma pane no Uruguai. Então, partiu um avião do Rio para substituir a aeronave enguiçada. Omar, que não estava de plantão, foi convocado de última hora. Logo no início do voo, de Montevidéu para o Rio, o grupo de guerrilheiros brasileiros no avião, tomaram a cabine e determinaram que o Caravelle seguisse para Cuba. Entre os sequestradores estava Cláudio Galeno Magalhães Linhares, ex-marido da presidente afastada Dilma Rousseff. Na aeronave, estavam passageiros brasileiros, uruguaios, argentinos e até romenos.

Até chegar a Havana, em Cuba, o avião precisou fazer quatro escalas para abastecer: Buenos Aires, Santiago, Antofagasta (Chile) e Lima. A cada parada, cabia ao refém Omar descer e negociar combustível e alimentação com as autoridades, que tentavam convencê-lo a tentar uma reação e entrar com uma arma, seguido por militares, e acabar com o sequestro. Ele se recusou.

— Seria uma carnificina. Não conhecia ninguém. Não saberia identificar guerrilheiros e passageiros — disse Omar.

Foram quatro dias de viagem e três dias retidos em Havana. Na volta ao Rio, prestou vários depoimentos e foi levado para uma sala de tortura numa unidade da Aeronáutica. Omar tinha doze anos de aviação e viajava com toda semana para o exterior. As escalas de viagem ao exterior minguaram após o sequestro, e ele passou a ser escalado apenas para voos domésticos. Dois anos depois, em 1972, foi demitido do emprego.

Omar, com 75 anos, contou hoje ao GLOBO que, desde então, passou dificuldades financeiras. Desde 2004, ele vive em Barbacena (MG), onde mora com parentes. Ele trabalhou com vendas, entre outras ocupações.

— Depois da demissão, vivi sempre com muita dificuldade. A minha praia era o avião, e me tiraram isso. Fazia com gosto. Não trabalhava. Me divertia — disse Omar, logo após a aprovação de seu processo na comissão.

Os conselheiros da Comissão de Anistia reconheceram a perseguição política a Omar e aprovaram seu processo por unanimidade. Ele terá direito a uma prestação mensal de R$ 3,2 mil e um retroativo — soma de pagamentos devidos atrasados — de pouco mais de R$ 400 mil.

Além de Galeno, participaram do sequestro do Caravelle os então guerrilheiros James Allen da Luz, Athos Magno Costa e Silva, Nestor Guimarães Herédia, Isolde Sommer e Marília Guimarães Freire.


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