Barroso defende investigações contra corrupção e faz crítica velada a Gilmar Mendes
SÃO PAULO - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso defendeu nesta sexta-feira as investigações de corrupção e fez uma crítica velada ao seu colega de Corte Gilmar Mendes, que no início da semana havia classificado como “cretino absoluto” quem defende uma proposta de combate à corrupção encampada pelo juiz Sergio Moro e pelo coordenador da Lava-Jato no Paraná, procurador Deltan Dallagnol.
A medida sugere que prova ilícita feita de boa fé pode ser considerada válida. Durante uma palestra sobre liberdade de expressão em São Paulo, Barroso pediu tolerância à diversidade de opiniões.
— Estamos precisando de um debate público de qualidade em que as pessoas emitam suas opiniões e sejam respeitadas. No Brasil, há uma atitude geral de quem pensa diferente de mim só pode ser um cretino completo a serviço de alguma causa escusa. É preciso superar essa visão de mundo intolerante, autoritária, pouco fraterna — afirmou o ministro, em palestra na Associação dos Advogados de São Paulo, que não citou o nome de Mendes.
Barroso defendeu investigações de corrupção, mas criticou o que chamou de “vazamentos seletivos”. O ministro ponderou que o respeito à transparência "não legitima vazamentos seletivos, venham da acusação, da defesa ou da polícia" e disse que, se bem-sucedida, as investidas contra as investigações de corrupção, como a Operação Lava-Jato,"impedirão a mudança de patamar ético de que o país precisa". O ministro disse que “existem robustas e previsíveis reações contra investigações de corrupção em geral”.
— Se a reação (contra investigações de corrupção) prevalecer tudo ficará muito parecido como que sempre foi. Essas reações incluem ataques ao Ministério Público, tentativas de reverter a jurisprudência do STF, que permite a execução de condenações após o segundo grau, articulações para preservar mandatos maculados com mudanças legislativas que façam tudo tão ficar parecido quanto possível quanto sempre foi — disse ele.
Barroso disse que a corrupção no Brasil precisa ser combatida "não com arroubos retóricos", mas com investigação séria, cooperação internacional, tecnologia e técnica jurídica.
— Essa é a grande diferença e a grande virtude do presente momento — completou o ministro.
Ele finalizou a palestra dizendo que o país precisa de uma "sociedade mobilizada e um judiciário independente capazes de continuar a promover uma virada história na ética pública e privada, dentro da legalidade".
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