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Artigo: ‘Onde os políticos gostam de enterrar suas promessas’

Por Agência O Globo

28/08/2016 3h52 — em
Brasil



Moro em Madureira e ando por esse Rio de Janeiro todo. Vai da vontade do dia. Posso sair de uma sessão de um cinema mega cult em Botafogo direto para uma sessão espírita em Cavalcante. Sou dessas.

Vira e mexe estou pela Zona Sul já que, infelizmente, no subúrbio não há boas livrarias e teatros como do outro lado do túnel. Interajo bem por lá e, todas as vezes que falo que moro em Madureira, torno-me o centro das atenções. Passo a ser uma espécie de atração turística por ser aquela que mora “no berço do samba".

Parece até que Arlindo Cruz fica andando diariamente pelo caminho de Ogum e Iansã cumprimentando os moradores pelo nome e que trocamos abraços fácil com Paulinho da Viola. A despeito disso ser uma grande ilusão, ser da terra do jongo, de fato, nos enche de orgulho e candura. A rua não é local somente de passagem mas, também, de encontro. Vizinho aqui é parente. A beleza nessas bandas não se enxerga com os olhos. Outro dia, passei por um posto e no lugar dos carros havia mendigos sendo lavados pelos frentistas. Uns escovando, outros sendo ensaboados. Todos gargalhando. Era a verdadeira Operação Lava-Jato que o Brasil inteiro deveria testemunhar. Só não fotografei porque aqui Deus não perdoa quem fica exibindo celular a torto e a direito.

Sobre o Mercadão, eu sempre tenho que explicar aquele labirinto borgeano, onde encontramos toda a população do mundo mais itens de festa, animais para sacrifício e imagens de dois metros de Exu Tranca Rua, dentre outras coisas úteis para a vida prática e espiritual. Perguntam-me sempre também do Parque, obra recente. Ele é lindo e tem contribuído para que emagreçamos em plena região imune ao raio gourmetizador, com todo o espaço e as opções de atividades físicas que nos são oferecidos. Adoro.

Eu, que circulo, digamos, por esses dois mundos, percebo o subúrbio como a parte do Rio preferida pelos políticos — para enterrarem as suas promessas. Mas, paradoxalmente, é aqui, sem dúvidas, onde os poetas encontram o melhor ângulo para ver a Lua.


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