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Wallace Souza, herói ou bandido ? Breves considerações sobre o documentário da Netflix


Por Raimundo de Holanda

01/06/2019 0h55 — em
Bastidores da Política



O documentário da Netflix sobre  o caso Wallace contemplou as duas versões de uma história onde jornalismo, banditismo, disputas políticas e grupos de interesse se misturam. No final, Wallace, embora morto, aparece idolatrado por uma multidão de admiradores. Quem assistiu os 7 capítulos da série ficou em dúvida sobre de que lado afinal estavam os bandidos e os mocinhos, porque os personagens desse episódio da vida política e policial do Amazonas se confundem.

Impressionou o recurso usado pelos editores para inserir nos episódios arquivos de vídeo nos quais Wallace fala das acusações que sofreu ou da forma como o programa Canal Livre era dirigido, dando a impressão para o telespectador de que eram atuais e que ele participou diretamente das gravações.

Os produtores da série só erraram no titulo da obra: “Bandidos na TV”.

Como jornalista acompanhei essa história de perto. Nunca compreendi por que uma Força Tarefa constituída para investigar, coletar provas, apontar envolvidos em suposto  crime  - seja de que origem for - tenha que ter em torno da mesma mesa a Polícia - com a função de apurar as infrações penais; o Ministério Público - órgão essencialmente acusador; e um juiz, que julga com base na lei e com absoluta isenção, longe do espectro politico. O que não ocorreu no caso Wallace.  Um magistrado não pode atuar como mero chancelador de uma denúncia. Ou desvirtua a própria essência do seu trabalho.

Que havia uma predisposição de “pegar o deputado”, claramente havia. A  busca e apreensão na casa de Rafael Souza, a mesma de Wallace, foi ilegal e em qualquer outro lugar supostas provas colhidas ali seriam invalidadas. Porque a casa era de um parlamentar, com imunidade.  E a  medida foi autorizada por um juiz de primeiro grau, não por um desembargador do Tribunal de Justiça do Amazonas. Mesmo assim as buscas acabaram ocorrendo em bens do deputado, que poderiam ter origem ilícita, mas foram apreendidos ao arrepio da lei.

Não me perguntem se Wallace foi o herói cantado pela multidão que compareceu ao seu enterro ou um bandido. Perguntem que finalidade tinha a Força-Tarefa. Se era para combater a matança e o tráfico de drogas, porque esses crimes só evoluíram de lá para cá  - ou a idéia era desconstruir o parlamentar? E por que a Força-Tarefa não se tonou permanente, como vigia da sociedade no combate ao crime? A ideia era mesmo “pegar Wallace”.

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ASSUNTOS: irmãos coragem-manaus-FDN, moa, wallace souza-netflix-canal livre

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.