Tortura e chacina duraram horas
O sistema prisional é falho, isso é sabido. Mas o que houve no Compaj/Ipat, em Manaus, é revelador do absoluto dominio de facções criminosas nas penitenciárias do Estado.
E o fato de a PM não ter agido com rigor, para impedir o massacre, é indicativo de uma imperdoável incapacidade de agir, de restabelecer a ordem em estabelecimento penal (em tese) sob proteção do Estado.
Dizer que todo o massacre ocorreu nos 15 minutos iniciais da rebelião por uma das facções criminosas, como afirmou o secretário Sérgio Fontes, para justificar a não invasão do presídio, é desconhecer que a ação era contada em capítulos pelos próprios presos, que inundavam as redes sociais com fotos e vídeos, num ritual de matança que durou seis das 20 horas de conflito.
Não se conta mais histórias como antigamente. A verdade não é mais a oficial. Sérgio Fontes parece não saber disso.
A verdade se espalha nos celulares, nos grupos de amigos e impacta nossas vidas, nos tira o apetite, nos joga nesse inferno contido nos aplicativos como Whatsapp e Telegram...
É cada pessoa contando sua versão dos fatos, minuto a minuto e sem controle. A verdade precisa ser dita: a invasão não geraria um novo Carandiru, porque um dos lados não queria morrer. Queria matar, como o fez, massacrando rivais no crime.
Ficar do lado de fora dos portões foi pura omissão. Imperdoável omissão. (RH)
BALANÇO DAS MORTES
O balanço de mortes na rebelião no Compaj é de 56 e não 60 como havia informado antes a Secretaria de Segurança. Até o final da tarde de ontem o número total de foragidos durante a ‘guerra entre facções’ no sistema prisional Compaj/Ipat, contabilizado pela SSP-AM era de 184 presos, sendo 112 do Compaj e 72 do Ipat. Foram recapturados apenas 40 fugitivos.
VALOIS MEDIOU RENDIÇÃO
O juiz Luiz Carlos Valois foi convocado ao Compaj para ajudar nas negociações para liberar os reféns. Por ser defensor dos direitos humanos o juiz é respeitado e ouvido por detentos do sistema prisional.
FÁBRICA DE TORTURA
Para a Pastoral Carcerária da Igreja Católica, nos presídios do Amazonas os presos sofrem torturas, vivem em superlotação carcerária: “uma fábrica de tortura, que produz violência e cria monstros”.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.