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É preciso dar à Ellen o direito de enterrar seus filhos


Por Raimundo de Holanda

25/09/2014 18h49 — em
Bastidores da Política



Augusta Ellen não vai ao enterro dos filhos, mortos na madrugada durante um incêndio. Acusada de abandono de incapaz, foi imediatamente algemada e levada para o presídio.  Nada justifica trancar crianças e sair na madrugada, mas muitas mulheres que criam sozinhas os filhos fazem exatamente isso: saem cedo  para o trabalho ou outras atividades que contribuem com o sustento da família. Foi o caso de Ellen.  Usar como justificativa que ela se drogava é uma acusação cruel, tão cruel quanto o descaso das autoridades com a falta de um serviço tão importante quanto o alimento, especialmente para os mais pobres: a internet, meio pelo qual as pessoas conversam, fazem cursos, trabalham em casa, se formam, constituem relacionamentos. Qual o problema de Ellen tentar o sinal da internet no seu celular pré-pago, buscando o Wi-fi da vizinha? Nenhum.  O incêndio foi uma fatalidade. O sofrimento de Elen já é grande demais para culpá-la. Não merecia ser algemada, muito menos encaminhada ao presídio. Quem se coloca no lugar de pais e mães que lutam e às vezes tem que vender  o corpo para  levar comida para casa, pode compreender o dilema dessa mulher, ainda jovem, mas absurdamente marcada pelo sofrimento. É preciso  dar a Ellen o direito de enterrar seus filhos. (Raimundo Holanda) 

Reveja Vídeo com o depoimento de Ellen:  "Vou me matar"

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.