Comitê das Humanidades da UEA se manifesta sobre confusão durante ato na Escola Normal Superior
O Comitê das Humanidades da Escola Normal Superior da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em contato com o Portal, encaminhou a versão da instituição sobre o que foi noticiado na matéria "Coordenador do Movimento Brasil Livre é agredido durante reunião partidária em Manaus"
Confira na íntegra:
O Comitê das Humanidades, da Escola Normal Superior, da Universidade do Estado do Amazonas, vem a público esclarecer o acontecimento ocorrido nesta sexta-feira, 29 de abril, dentro dos espaços de uma Instituição pública de ensino, que forma professores. O nosso Comitê é formado por professores, estudantes, intelectuais, artísticas, poetas, entidades políticas, movimentos sociais e estudantis com ou sem vínculo partidário. Não negamos nossa linha progressista, mas não estamos representando nenhum partido. O contrário é verdadeiro. Alguns partidos e entidades estudantis se sentem representados por este Comitê, e todos que sentirem assim representados, serão bem-vindos nele. Lutamos contra todas as formas de desigualdade, social, étnico racial, sexual e de gênero.
Enquanto comitê constituído de professores, é preciso afirmar que formamos boa parte dos professores do Estado do Amazonas e consideramos o atual momento político fundamental para formação e conscientização política de nossos alunos, visto que ele se configura como um retrocesso quanto à conquista da democracia, adquirida a longas penas. O posicionamento do comitê acompanha inúmeros comitês que foram criados por todo Brasil. No Amazonas, a UEA e a Universidade do Federal do Amazonas criaram os seus e resolveram somar forças nessa luta em favor da democracia e contra o golpe. Ambas as universidades estão em pleno exercício de sua função: formação de consciências críticas e históricas. Somos contra o golpe, porque não vimos no pedido de impedimento da presidenta Dilma qualquer ato criminoso de responsabilidade. Acompanhamos a votação do último dia 17 e percebemos ali um ato hediondo contra democracia, um circo de horrores, em que pelo amor a Deus, às suas famílias, à igreja, bem como apologia a tortura e homenagem ao maior torturador que esse país já teve nos tempos escuros da ditadura militar. Ora, o nosso estado é laico e deve responder pelos interesses do povo e não por interesses individuais de cunho moralista, religioso e de natureza claramente privada. Por isso eleições diretas. O que se viu nesse dia foi exatamente o contrário. As pedaladas fiscais não foram julgadas por aqueles que dizem nos representar.
Neste dia 29, os Comitês se uniram e criaram um evento em prol da democracia e contra o golpe. Seria o Dabacuri da Democracia, no qual nos propomos a fazer um ato carregado de amor, compartilha e de solidariedade ao povo brasileiro. Um ato político contra o golpe. Um ato político contra o desrespeito à constituição e à democracia.
Nosso ato seria na praça em frente à ENS, mas a chuva atrapalhou e resolvemos ficar no hall da própria escola. Estávamos nos preparando para o início de nossas atividades quando apareceram dois homens que se colocaram a favor do golpe (aliás, foi esse o termo que eles usaram) e pediram para falar também. Infelizmente, nosso ato em sua metodologia não estabeleceu um debate. Nosso ato era claro quanto à sua posição contrária ao golpe. Não reconhecíamos naqueles homens qualquer possibilidade de diálogo. Mas o espaço da universidade é público e democrático, permitimos a presença deles lá, mas não demos direito à voz. Um desses homens carregava uma filmadora que acompanhava todos os atos do evento. Esses homens, inconformados com o nosso posicionamento, começaram a perturbar a ordem, incitando o ódio, ofendendo diretamente a direção da Escola Normal Superior com palavras de baixo calão. Parecia claro, e muitos que estavam ali escutaram de suas bocas, que os dois homens estavam ali pra nos levar à delegacia. Eles afirmavam que o nosso ato era criminoso pelas bandeiras levantadas, por estarmos num espaço público, por fazermos desse ato apologia a partidos e por estarmos ali fazendo política.
Como sabemos, a Constituição do nosso País é clara, é garantida a livre manifestação de pensamento inclusive em lugares públicos. Não há nada que impeça partidos, bandeiras ou qualquer outro tipo de entidades públicas de estarem presentes nestes espaços, muito menos numa Universidade. Como professora de história e diretora de uma instituição, democraticamente eleita, mas acima de tudo, como cidadã a coordenadora deste comitê tem garantia constitucional de defender suas ideias em qualquer lugar que esteja. O senhor Romão, Gritou, ofendeu os homens e mulheres ali presentes. A juventude respondeu com palavras de ordem. Em nenhum momento foi permitido qualquer ato de violência contra essas pessoas. Pelo contrário. Estávamos inclusive em maioria, e a direção da escola poderia, diante do direito que lhe confere o cargo, pedir a retirada desses homens daquele recinto, por estarem ali perturbando a ordem e incitando o ódio. Não o fez. O evento encerrou sem maiores problemas. No entanto, esses homens, acompanhados de um aluno da própria escola, tentaram coagir a direção, e de forma agressiva solicitaram o espaço para fazer um ato pró-golpe. Ora, estamos numa faculdade de educação, estamos lutando contra o golpe. E nesse contexto não podemos autorizar ninguém a fazer qualquer ato que tenha no seu conteúdo expressões antidemocráticas, racistas, com apologia à ditadura e à tortura. Não, aqui não. Todas as nossas decisões são feitas de forma colegiada. É a direção e sua comunidade quem decide fazer uso do espaço da Unidade. A direção, não atribui a si essa responsabilidade, sem antes consultar suas bases. A diretora da Escola se retirou e seguiu para sua sala. Mas os homens a seguiram, impondo suas forças brutas, e ela teve que se trancar em sua sala. Com gritos de apologia à ditadura e de posicionamento machista tentaram entrar na sala. Os alunos saíram em defesa e a desordem foi instalada. Tivemos que chamar a polícia, pois já estávamos em aula e esses homens continuaram perturbando a ordem. Eles bateram nas mulheres estudantes e cinicamente agora afirmam terem sido agredidos por elas, além disso chamaram a direção de feminista idiota e professora de bosta.
Esses homens desordeiros estavam ali, segundo consta, representando o partido do PSDB. Não acredito que esse partido, comandado pelo prefeito dessa cidade, com o qual esta Universidade tem mantido boas relações, seja capaz de promover esse tipo de ação. Ao longo de três anos, esta direção vem desenvolvendo uma parceria fundamental com a prefeitura de Manaus, por meio da Semed, aliando a universidade à escola pública, sempre em busca da melhoria da qualidade educacional do município de Manaus. Não cremos que esse ato esteja sob o comando do prefeito desta cidade, pois isso representaria um corte aos códigos de cordialidade, respeito e responsabilidade construídos por essas instituições.
Contudo, e por tudo isso, o que esses homens fizeram não pode passar impune. O comitê das Humanidades do Amazonas, com apoio do Sindicato dos Docentes da UEA, tomará as medidas cabíveis contra esses homens, nada humanos. Nós repudiamos o golpe. Repudiamos a ditadura, a tortura. Nós amamos a humanidade na sua diversidade. Sabemos que o convívio com a diversidade se estabelece a partir dos princípios democráticos. Por esses princípios lutamos e continuaremos lutando. O Comitê das Humanidades constitui-se como uma arma amorosa contra qualquer tipo de ação que violente os direitos humanos. Pela humanidade e pela democracia, dizemos NÃO AO GOLPE! O nosso oficio de professores é a nossa arma de luta contra o retrocesso que a democracia desse nosso país está passando.
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