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Prefeito Artur relembra a história do pai com emoção na data de seu falecimento

Por Portal Do Holanda

01/04/2015 22h27 — em
Amazonas



No dia 31 de março de 1987, falecia meu pai, Arthur Virgílio Filho, com apenas 66 anos de idade. Vitorioso, sofrido, bravo, honrado, indomável, rebelde, sensível, emotivo, sonhador, triste, generoso, não exatamente feliz.

Deputado estadual em três legislaturas, começando pela Constituinte de 1947, foi, nesse período de doze anos, líder de governo e de oposição, Presidente da Assembleia Legislativa, Secretário de Interior e Justiça e também de Economia e Finanças. Nascia ali uma figura pública que marcaria época, aos olhos do Brasil, como Deputado Federal (quadriênio em que seria vice-líder, depois primeiro vice-líder e finalmente líder da poderosa bancada do PTB de então) e Senador, posto em que conquistou, desde o primeiro dia de mandato as lideranças do governo do Presidente João Goulart e do Partido Trabalhista Brasileiro do próprio Jango de Vargas e Brizola.

Tribuno eloquente e culto, combativo e ao mesmo tempo hábil, impôs-se ao respeito da imprensa nacional e dos seus pares no Congresso. Cassado em fevereiro de 1969 pela iniquidade do Ato Institucional número 5, Arthur tinha apenas 48 anos de idade e sofreu, calado e circunspecto, a injustiça que se abatia contra os que não se vergavam ao regime discricionário imposto ao país, entre 1964 e 1984. O arbítrio o pegou de pé e fronte erguida. 

Foi o primeiro líder, no Senado, à ordem inconstitucional que se impôs ao país. Não calou, não se abastardou, não Abriu mão da coerência nem dos princípios. Um homem, desses que os adversários leais admiram e os desleais temem. Alguém criado sob o signo do combate, da dor, da alegria, das frustrações e das conquistas. Um homem. Não mais que um homem. Com defeitos grandes e qualidades infinitas. 

Meus irmãos Ana Luiza, Julio Verne e Glicia, esta fora do casamento com minha mãe, Isabel Victória, estão com a cabeça e o coração postos naquele pai espartano na luta e bonachão conosco. Que nos ensinou a nadar nas águas antes puras do Mindu e nos dava a segurança que os fortes sabem transmitir. Que nos dava exemplos diários de que seus inegáveis defeitos pessoais eram muito menores que suas qualidades de nobreza, frontalidade e decência. 

Criador da Universidade do Amazonas, tal como ela é hoje (o campus leva o seu nome, pela iniciativa dos professores Clynio Brandão e José Russo, ao Reitor Hidembergue Frota, à Vice-Reitora Marilena Perales e à unanimidade do Conselho Universitário), meu pai nos deixou quando era o Presidente Nacional da Previdência Social. Saudades até hoje. Lembranças ternas. Exemplos que não me deixarão Manaus jamais. 

Certa vez, num debate no Senado com o Presidente José Sarney, reclamou ele do que seria suposta impertinência minha, ao sustentar obstinadamente determinada posição. Respondi: “a culpa é do meu pai Excelência. Muita gente foi treinada para ser obediente. E ele me ensinou a desobedecer”. Saudades, pai. De tudo. Das conversas. Dos livros que me davas para ler. Dos exemplos. Aliás, não conta para ninguém aí em cima. Mas quando estou para sentir medo, lembro de ti, e os gigantes viram anões, as adversidades ficam banais, os poderosos se desidratam. 

Um beijo grande, “velho”. Espero que estejas nos olhando e velando por nós...e pelo Brasil, pelo Amazonas, por Manaus.

 

Arthur Virgilio


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